Numa tribo do Amazonas, o convite para a festa
consiste em uma medição de tempo feita a partir de pequenas tábuas de taquara.
A cada dia, o cacique da aldeia convidada vira uma delas de lado. Quando a
seqüência de tábuas chega a uma com a ponta diferente, ele sabe que é hora de
preparar a comida para levar à festa. A próxima ponta, alcançada dias depois,
mostra que é preciso começar a caminhada para se chegar a tempo ao evento. O
convite se chamakatyba e
pode ter mais de uma dezena de tábuas. Os índios waimiri-atroari,
no entanto, só contam até cinco. A reportagem é do jornal Estado de S. Paulo,
5-11-2006.
Entender a etnomatemática é entender que não há uma só lógica, uma só racionalidade. O termo foi dito pela primeira vez por um matemático brasileiro chamado Ubiratan D'Ambrósiono fim dos anos 70. Ele passou a defender que a matemática que o mundo conhece prevaleceu porque veio com os povos conquistadores da Europa. E acabou se mostrando essencial para desenvolver a ciência e a tecnologia. "Mas isso não quer dizer que as outras matemáticas não servem para nada. Temos de recuperar raízes culturais, assim como se faz com as línguas, culinária, costumes", diz ele, hoje professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O conceito de D'Ambrósio atualmente é pesquisado por cerca de 400 cientistas do mundo todo; metade é formada por brasileiros.
Entender a etnomatemática é entender que não há uma só lógica, uma só racionalidade. O termo foi dito pela primeira vez por um matemático brasileiro chamado Ubiratan D'Ambrósiono fim dos anos 70. Ele passou a defender que a matemática que o mundo conhece prevaleceu porque veio com os povos conquistadores da Europa. E acabou se mostrando essencial para desenvolver a ciência e a tecnologia. "Mas isso não quer dizer que as outras matemáticas não servem para nada. Temos de recuperar raízes culturais, assim como se faz com as línguas, culinária, costumes", diz ele, hoje professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O conceito de D'Ambrósio atualmente é pesquisado por cerca de 400 cientistas do mundo todo; metade é formada por brasileiros.
Entre as linhas de pesquisa, há as que se dedicam
aos povos incas e sua contagem por meio de nós. Os incas não conheciam a
escrita e acredita-se que agrupavam os quipos (nós) de acordo com algo parecido
com o sistema decimal. Outras se voltam para a índia, onde, há
séculos, mulheres desenham figuras com pó-de-arroz usando regras que lembram
teorias recentes das linguagens gráficas da informática.
Apesar das comparações inevitáveis, a questão mais
difícil da etnomatemática, segundo o pesquisador da Unicamp Eduardo Sebastiani Ferreira,
é entendê-la sem levar em conta o raciocínio da cultura ocidental, da
matemática aristotélica. Ele conta a história de uma tribo de Mato Grosso, os tapirapés, cuja
unidade é o número 2. "Eles acreditam que nada nem ninguém sobrevive
sozinho. Qualquer coisa lá é em par; isso muda completamente a lógica
matemática", diz. Na tribo, cada criança que nasce ganha um amigo e os dois
permanecem juntos até que um deles se case.
ORIGENS
D’Ambrósio e os outros
pesquisadores da área defendem que manifestações matemáticas - como os bastões
de Ishango de 20 mil atrás - não podem ser vistos como algo que deu origem à
matemática ocidental. não houve uma evolução até chegar ao que hoje conhecemos;
as ciências se desenvolveram paralelamente, garantem. "Elas não são a matemática
primitiva, têm outra fundamentação. Se os povos não tivessem sido
marginalizados e elas tivessem evoluído, chegariam a outras conclusões", diz.
A matemática clássica, que está nas escolas e
universidades do mundo todo, teve origem na Grécia Antiga, incorporou
conhecimentos numéricos indo-arábicos e começou a se espalhar com as conquistas
dos séculos 15 e 16. "Hoje os chineses constroem aviões usando a
matemática ocidental", completa D’Ambrósio.
"A matemática é uma só", discorda o presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, João Lucas Marques Barbosa.
Para ele, a etnomatemática é uma pesquisa ainda incipiente, ligada à história e
que deveria ser estudada por antropólogos. "Quando se fala em matemática,
se fala em resultados, em teoremas. Os incas, astecas a desenvolveram até um
certo ponto", completa.
A polêmica talvez seja um motivo para que a
etnomatemática ainda seja pouco conhecida nas salas de aula. Para Barbosa, ela
ainda produz "resultados simples demais" para ser ensinada nas escolas. Segundo ele, na maior biblioteca da área
do Hemisfério Sul, no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa),
só há um título que faz referência à etnomatemática.
"Não se trata de substituir a matemática pela
etnomatemática", afirma D’Ambrósio. Ele explica que os professores podem
usar uma abordagem etnomatemática para despertar o interesse de seus alunos
para a disciplina. Isso significa fazer com que conheçam as outras formas de
pensamento lógico, como por meio da contextualização dos cálculos, valorizando
a matemática presente na vida deles. Em testes internacionais, o Brasil tem o
pior desempenho na disciplina.
"Assim como se estudam outras religiões, a
cultura camponesa não pode ficar fora da escola", diz a professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio
Grande do Sul, Gelsa Knijnik, que pesquisa a etnomatemática dos
sem-terra, com cálculos mentais e modos únicos de medir o lote. Outros
pesquisadores estudam a etnomatemática dos negros brasileiros e já há
tentativas de se incluir a lógica da capoeira e até dos jogos de búzios em
escolas públicas da periferia.
O conteúdo clássico dos vestibulares, dizem
professores de escolas particulares, dificulta a inclusão da etnomatemática.
Há, no entanto, tentativas de estudar a matemática dos povos africanos no
Colégio ítaca por exemplo, na capital. Para a professora do Colégio Santa Maria
Inês Namour, a etnomatemática ajuda na tío falada interdisciplinaridade,
já que mistura cálculos, geografia, astronomia, história. "A introdução da
calculadora na sala de aula pode ser a etnomatemática da sociedade
moderna", diz D’Ambrósio.
* Constante do portal IHU Online
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